entrevista por Padre Pedro José

Entrevista a Padre Pedro José Correia

Por uma aluna de Bioética em Psicologia da Universidade de Aveiro

Abril de 2013

1.         Descreva a posição que a Igreja adota relativamente ao aborto.

Convém uma procura de propriedade na linguagem como nos princípios. “Ab-ortus” o ”não nascido”, diz respeito à vida gerada. A igreja católica defende uma promoção e defesa do Direito à Vida. Abertura completa à vida humana. Não há o direito sobre a vida do outro, por mais embrionária que seja essa vida.

 2.      Relativamente à despenalização da interrupção voluntária da gravidez em Portugal, concorda que veio promover uma certa banalização da sua prática ou acha que de certa forma contribui para uma maior reflexão e ponderação antes da decisão da realização de um aborto?

Quando se fala em despenalizar – a postura da Igreja não é “criminalizar” como se diz em crítica polémica; a Igreja quer «curar» o descompromisso…e entende que a interrupção voluntária da gravidez não reduz o problema à mãe. A Igreja entende que «despenalizar» é relativizar a consciência do Valor da Vida. Ao despenalizar não se deixou de tirar a vida a outro ser.

menina

 3.      Considera importante que exista acompanhamento psicológico quer para as mulheres que ponderam recorrer ao aborto quer para quem já recorreu a essa prática?

 Sim, totalmente. O isolamento corroi a dignidade. A mulher deve ser acolhida de forma incondicional. Sem julgamento ou pré-juízo de valor. Acompanhar é prestar ajuda nas decisões, no discernimento, ajudar a tomar as decisões mais difíceis e ajudar depois a assumir as consequências. Há em Aveiro a ADAV uma associação de voluntários que faz um trabalho meritório neste âmbito CONTACTO: Associação de Defesa e Apoio da Vida (ADAV), adavaveiro@hotmail.com; Tel. 234 42 40 40; Mercado de Santiago Sala AH, Apartado 420; 3811-001 AVEIRO pode consultar-se o endereço: http://www.adavaveiro.org/).

 4.      A nível religioso, a prática do aborto remeter-nos-á para uma desvalorização da vida humana?

Não é só uma questão do nível religioso. O aborto como realidade complexa é uma questão que não é primeiramente religiosa, é uma questão humana. E por isso a ética e dignidade da Vida e da Pessoa humana ficam desvalorizadas. É uma consequência da “sociedade líquida”, isto é, relativista, que banaliza o comportamento sexual e afetivo dos envolvidos.

 5.      Como reagiria a Igreja, de uma forma em geral, face à posição de uma mulher, vítima de violação, que ponderaria praticar o ato da interrupção voluntária da gravidez?

É uma das situações mais difíceis e trágicas. Há que entender a profundidade do trauma. Ser tolerante é diferente de ser permissivo. Ter princípios não significa postura heroica de vida… apelava para a Consciência e “ajudava” a encarar o mais difícil respeitando inteiramente a decisão tomada, ainda que não fosse a Defesa da vida, mesmo uma vida não-desejada e não-amada. Qualquer que fosse a decisão estaria e permaneceria ao seu lado sem julgar

 6.      Poderia a adoção, em alguns casos, mostrar-se uma alternativa para a prática do ato da interrupção voluntária da gravidez?

Poderá ser uma possibilidade concreta. É uma porta que se abre. Na decisão de abortar é um mundo que se fecha e perde sentido. Na adoção há abertura ao futuro por mais incerto que seja.

ADAV no Diário de Aveiro

No dia 27 de julho, o Diário de Aveiro publicou uma reportagem sobre a ADAV com Luís Silva e a Fernanda Capitão, respetivamente o Presidente da Direcção e a responsável pelas equipas de voluntárias e pelo atendimento.

Parabéns pelo trabalho desenvolvido e votos de que mais pessoas se envolvam no apoio às famílias carenciadas que têm a seu cargo bebés.

entrevista ao presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Miguel Oliveira da Silva, que chama a atenção para aspectos preocupantes da aplicação da lei do aborto, alerta para a educação sexual inexistente e diz que, nos hospitais, já há mais prática de não reanimar doentes do que dizem as fichas clínicas

Ler a entrevista completa em http://jornal.publico.pt/noticia/27-06-2010/depois-da-lei-ha-mulheres-que–fazem-dois-e-tres-abortos-por-ano-19709379.htm

Esta é a sua preocupação, três anos depois da lei do aborto? O número de abortos está a subir. De 12 mil passou para 18 mil em 2008 e para 19 mil em 2009.

Aumentaram os abortos ou a visibilidade do problema? Está a subir o registo legal do número de abortos até às dez semanas.

Era expectável…É expectável que isso aconteça durante dois a três anos, porque são muitas mulheres que vêm do aborto clandestino e que deixam de o fazer às escondidas. Mas vamos ver até quando continuarão a subir. Se os números continuarem a subir, a subir, é o total falhanço do planeamento familiar.

Não é preciso mais tempo para perceber?Pouco mais tempo. No máximo, um ano. Quando tivermos os dados de 2010 em 2011, se a tendência ascendente continuar, alguém terá de ter coragem de dizer que é tempo de pensar sobre isto e que há algo que não está a funcionar em termos de contracepção.

Por ignorância?Ainda por alguma ignorância, também. Se as pessoas não sabem quando têm a ovulação, se há mulheres que tomam três pilulas do dia seguinte no mesmo mês… Três vezes contracepção de emergência num mês? Ninguém tem três ovulações num mês! É ignorância total, abuso, mau uso. A questão é que, além de muita ignorância que ainda existe, temos de saber se o recurso ao aborto vem, nalguns casos, na sequência de uma política irresponsável de contracepção. Acho que quando tivermos quatro anos de lei do aborto é tempo mais do que suficiente de parar para pensar. Não é para mudar a lei. É para avaliar. E não vejo ninguém a querer fazer isso. É surpreendente.

“A liberalização do aborto não acabou com os dramas”

O facto de haver uma lei que legaliza determinadas situações não vem resolver as situações de consciência das pessoas. Facilita algumas, mas não resolve o problema. As pessoas contactam-nos a pedir uma ajuda. Por vezes, nem é uma ajuda material, mas de apoio psicológico e médico, depois de uma tentativa de aborto que não resultou.
Quer dizer que continua o aborto clandestino…
Parece que sim. Nós não entramos na vida íntima das pessoas. Só aceitamos aquilo que nos dizem. Ouvimos as pessoas, procuramos ajudá-las no problema concreto, mas não fazemos juízos morais.

in “A liberalização do aborto não acabou com os dramas” – Correio do Vouga – Novembro de 2009