MATERNIDADE E PATERNIDADE RESPONSÁVEIS
Isilda Pegado
Voz da Verdade, 13.11.2011
1 – É próprio da condição humana procurar cada vez mais e melhores condições de vida, mais felicidade e prosperidade. Há como que um desejo de apagar ou varrer o que de difícil e mal passou na minha vida para que aqueles que me sucedem (filhos) não tenham de passar pelas mesmas dificuldades.
2 – No fundo, o progresso resulta deste desejo de Bem que brota do coração do homem. A relação do homem com a sua descendência é por isso marcada pelo amor, a entrega, a abnegação (poderia continuar a dar adjectivos). Toda esta vivência individual tem expressão no colectivo.
3 – Nunca como hoje a maternidade e a paternidade tiveram tanto tratamento legislativo, científico, médico, sociológico e literário. Cada vez que é definida uma nova forma de protecção de maternidade e da infância o mundo parece avançar no sentido do progresso e da melhoria das condições de vida.
4 – É politicamente correcto dizer que os filhos devem “ser desejados”. Por isso só tem filhos quem os quer. O planeamento, a contracepção, o aborto são instrumentos vendidos (qual propaganda) à sociedade do bem-estar, que se instalou na mentalidade dominante.
Aqueles que estão em idade de reprodução já fizeram escolaridade obrigatória em geral, até pelo menos ao 9º ano e por isso presume-se que têm um mínimo de saber que lhes permite relacionar-se bem como a decisão de ter filhos, de os educar e sustentar.
5 – Temos por isso todas as condições para que, em tese, a maternidade e a paternidade sejam naturalmente responsáveis e capazes de em cada momento cada homem e cada mulher, saber educar os filhos que gerou e educa.
É aliás esta a forma mais correcta de organizar uma sociedade, um povo. Os filhos são criados e educados pelos pais, no ambiente de família que todos formam.
7 – Acontece que, diferentes Governos tiveram de criar uma rede nacional de Comissões de protecção de crianças e jovens em risco, os tribunais estão cheios de “processos de promoção e protecção”, há milhares de crianças em instituições, a comunicação social relata com muita frequência “casos” de maus tratos e negligências a crianças. Porquê?
8 – Um jornal diário de 17 de Outubro de 2011 noticiava que no ano de 2010 foram institucionalizadas 9136 crianças e no ano de 2009, 12579 crianças. Por ano nascem, em números redondos, 100.000 crianças. Contas feitas temos que, cerca de 10% das nossas crianças são privadas da sua família natural nos primeiros tempos de vida. Porquê? 10% da população infantil até aos 3 anos, está institucionalizada?
9 – No “Admirável Mundo Novo” Aldous Huxley mostra-nos um mundo em que todas as crianças estão entregues à governação da sociedade porque dessa forma é mais barato controlar a sociedade. A ficção de Huxley é bizarra e arrepiante, mas é só ficção…
10 – Em Portugal parece que nenhum Poder decretou que as crianças devem ser institucionalizadas. Mas o certo é que as circunstâncias, ou a falta delas, uma lei profundamente ideológica, e operadores para-judiciais e judiciais conduzem por ano 10% das nossas crianças à institucionalização.
Certo é também o custo humano da institucionalização que provoca nestas crianças carências, atrasos no desenvolvimento e incapacidades que num futuro se manifestarão. Não podemos deixar de referir o custo económico da institucionalização que numa IPSS ronda, por criança, os 2.700,00€ (dois mil e setecentos euros) por mês e numa instituição do Estado cifra-se nos 12.000,00€ (doze mil euros) por mês. Nas nossas casas uma criança de 2 anos despenderá de 300,00€ a 400,00€ por mês… Mas isto são números.
Mais séria é a dimensão humana de todo este silenciado e ideológico processo que afasta a maternidade e a paternidade do filho a que se dirige.
Porém há um grito de mães e pais que, vítimas de circunstâncias a que são alheios, se faz ouvir nos Tribunais de todo o País, porque num determinado dia foi lida a sentença e ficaram “inibidos do poder paternal” para sempre. Nunca mais lhes é permitido ver, beijar ou tocar no filho que é seu. O que falhou?
O “Admirável Mundo Novo” faz-se agora com os mais carenciados e os que estão mais sós na sociedade. É amanhã?
Isilda Pegado
Presidente Federação Portuguesa pela Vida