A minha experiência como voluntária
Lurdes Correia
Foi há dois anos que resolvi ocupar algum do meu tempo livre, motivado por uma situação de desemprego, no voluntariado da ADAV – Associação de Defesa e Apoio da vida.
Quando para lá fui, foi-me dito que o trabalho a que era chamada a fazer era o atendimento a mulheres grávidas ou com filhos pequenos, carenciadas a quem iríamos ajudar com enxovais para bebés leites e fraldas, roupas e calçado para as outras crianças e alguns alimentos.
Hoje, à distância de dois anos, o meu trabalho dentro da associação é muito mais do que isto.
A minha vivência com muitas das realidades mudou a minha maneira de ver a vida. Envolvi-me com as angústias das mulheres que partilharam comigo as suas vidas, situações dramáticas que me fizeram pensar como é que eu pude algum dia me queixar.
Mulheres jovens que se encontram grávidas, algumas já sozinhas, porque os companheiros partiram mesmo sem terem visto os filhos nascer.
Mulheres que, mesmo lutando contra a vontade dos companheiros, tiveram a coragem de deixar os seus filhos nascerem.
No exemplo destas mulheres interrogo-me: será que eu fui uma mulher de coragem nas coisas que correram menos bem na minha vida?
No acompanhamento que faço a todas estas mulheres, também incluo acompanhá-las a algumas Instituições para tratar dos seus problemas. O atendimento nem sempre é o mais justo, é preciso que se dê voz a quem não a tem.
Ser ouvinte, mais do que falar, às vezes é tão só isto o que precisam.
Gosto de abraçá-las, olhá-las nos olhos, quando partem, e sentir que estão melhor do que quando chegaram.
Sinto que ficam contentes quando as cumprimento, se me cruzo com elas na rua. Sinto-me feliz com este meu trabalho de entrega aos outros, dou muito de mim, mas recebo muito mais.
Abril de 2010